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Sufoco sem fim

Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.


Como se já não bastassem alguns protocolos sanitários duros que enfrentamos neste momento de retomada da economia em Belo Horizonte, entre eles a permissão de apenas seis pessoas por mesa nos bares e restaurantes, além, obviamente, da queda no faturamento provocada pela pandemia, temos sofrido com o reajuste de itens essenciais para o nosso pleno funcionamento: a energia elétrica, que há pouco tempo foi assunto desta coluna, o gás de cozinha e, principalmente os alimentos.

As geadas e ondas de frio que atingiram o Brasil em julho, consideradas as mais intensas dos últimos cinco anos, vem não só tirando os agasalhos dos nossos guarda-roupas como também batendo de forma amarga e cruel em nossos bolsos. Com áreas de cultivo agrícola diretamente afetadas por massas de ar polar, os preços de alguns itens dos nossos cardápios vêm subindo assustadoramente. As hortaliças e batatas, por exemplo, encareceram mais de 10% nas últimas semanas, segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura. E o alto custo não fica só nas plantações: a carne bovina registra alta de 35%, acompanhada pelos suínos (26%) e frango (18%).

Uma pesquisa inédita da Revista Exame, inclusive, mediu a percepção dos brasileiros em relação à alta de preços. Para equilibrar o orçamento, 63% mudaram os hábitos alimentares. Mais da metade (52%) dos entrevistados acredita que a inflação não vai dar trégua e os reajustes vão continuar até o final do ano.

No nosso caso, o cenário é bem mais melindroso porque nos obriga a repassar os custos para o consumidor final, mesmo que paulatinamente, o que não é nada interessante neste momento em que precisamos nos reerguer. Essa reestruturação, por sinal, é outra complexidade com a qual nos deparamos: só para vocês terem ideia, estudos apontam que o setor de bares e restaurantes precisará de dois a cinco anos para conseguir pagar suas dívidas, (entre empréstimos e impostos parcelados ou atrasados), e mais de duas décadas (duas décadas!) para refazer o patrimônio que foi desfeito porque muitos empresários tiveram que abrir mão de seus bens pessoais para continuar com o comércio e os funcionários.

Resumindo: quando, à duras penas, nos desvencilhamos da areia movediça da pandemia, que nos afundou durante 17 meses, somos surpreendidos com outra armadilha desse deserto inóspito que atravessamos. O oásis, realmente, vai aparecer na caminhada? Essa é a pergunta que faço todos os dias.



Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira

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