Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.
Parabéns. Hoje quero parabenizar o poder público pela retomada do comércio de Belo Horizonte na última segunda-feira (1º). Retomada essa que, pela primeira vez incluiu bares e restaurantes juntos aos demais segmentos da economia. Segundo o decreto atual podemos funcionar de segunda-feira à sábado, de 11h às 22h. Essa atitude da PBH mostra, sobretudo, empatia, não só com os empresários e trabalhadores, como também com a população de forma geral, que agora não terá mais que almoçar no porta-malas do carro ou em cima da mesa do escritório. A dignidade das pessoas de poderem sair para fazer suas refeições com a família é muito importante.
Mas...como nem tudo são flores, deixo aqui algumas ressalvas. A proibição do funcionamento aos domingos pode contribuir para uma aglomeração nos restaurantes. Isso porque o primeiro dia da semana é aquele em que o mineiro tradicionalmente gosta de sair para almoçar com os familiares. Sem ele, a única opção é o sábado.
Outro revés dessa reabertura é a fatídica proibição da venda de bebidas alcoólicas a partir das 15h, que pode ser a pá de cal para muitos estabelecimentos, infelizmente, fecharem as portas, principalmente para os bares que funcionam em horário noturno. É impraticável abrir às 18h e fechar às 22h sem poder comercializar esses produtos. Os drinks e as cervejas representam 60% do faturamento do setor. E os outros 40% só acontecem em função do consumo das bebidas, ou seja, a interrupção de um compromete seriamente o outro.
Além de prejuízos econômicos, a liberação incompleta, com a restrição do álcool, tira dos bares e restaurantes o poder de negociar alugueis e dívidas com fornecedores. A partir do momento que a casa encontra-se de portas abertas, o credor não vai fazer o mínimo esforço para compreender se o empresário está vendendo ou não. Ele vai querer receber em dia. Apenas.
Todos esses fatores podem, sem dúvida, trazer um desespero para vários comerciantes. Por não conseguirem arcar com os custos da folha de pagamentos, que por sinal vence hoje, muitos, certamente, vão burlar o decreto vigente e agir na clandestinidade como única opção de conseguir colocar dinheiro em caixa. Infelizmente prevejo esse cenário.
Que fique bem claro: nos preocupamos com a saúde da população, mas é impossível negar que o poder público, ao promulgar um decreto que não analisa os meandros do setor, prejudica toda uma classe em detrimento de alguns poucos infratores. A maioria dos empresários está atenta aos protocolos sanitários de prevenção à Covid-19 e não é justo que essa mesma maioria seja drasticamente penalizada.
A sensação é que estamos tentando sobreviver caminhando sobre uma areia movediça.
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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