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Incoerências

Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.


Depois de quase 50 dias de portas fechadas, bares e restaurantes de Belo Horizonte, puderam reabrir as portas ontem. É óbvio que a novidade é bem-vinda, mas ainda sim não traz tantos motivos para comemoração. Isso porque 70% dos estabelecimentos funcionam à noite, ou seja, não se beneficiam com a flexibilização, que permite a abertura entre 11h e 16h, de segunda-feira à sábado.

Para tentar contornar essa imposição da administração municipal, a Abrasel-MG e outras entidades, como o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindibares), Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) e o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), enviaram, na última terça-feira (20), ofício conjunto ao Secretário Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, André Reis, pedindo a ampliação da permissão para funcionamento dos estabelecimentos entre 9h e 21h. Essa autorização é importante para que o segmento de alimentação fora do lar atenda, inclusive, aos funcionários do comércio, autorizado a atuar nesse horário. A resposta da prefeitura, entretanto, foi de que o pedido só será analisado no próximo dia 28, mediante dados atualizados da pandemia.

Outro motivo que torna a reabertura nos moldes atuais incipiente, é que ela nem de longe repõe nossas perdas financeiras. Os tributos são cobrados de forma desproporcional ao cenário que estamos atravessando há mais de um ano, marcado pelo funcionamento restrito. O parcelamento das contas de água e luz atrasadas, por exemplo, anunciado pelo governo estadual, e a prorrogação pela PBH, para 30 de julho, do pagamento de taxas dos estabelecimentos da capital são medidas paliativas e distantes das nossas reais necessidades. É inviável e impraticável postergar prazos de impostos, afinal o dinheiro que não ganhamos quando fechados, simplesmente não ganharemos mais. O correto, justo e coerente seria não cobrar nada, absolutamente nada, durante o tempo em que os nossos alvarás foram suspensos. Já disse isso aqui na coluna, mas nunca é demais repetir.

Que fique bem claro: não somos e nunca fomos contra às medidas de prevenção e combate à Covid-19, mas é preciso desmistificar o mito criado de que bares e restaurantes são os vilões propagadores da doença. O vírus se dissemina em virtude do comportamento de grande parte da população, que não respeita o distanciamento social, ignora o uso de máscaras e a importância da higienização das mãos, entre outros hábitos.

Precisamos que a prefeitura consiga encontrar um equilíbrio racional entre saúde e economia, ao invés de apenas promover um ‘abre e fecha’ sem critérios, inclusive, com toques de maldade, já que parece fingir não entender o nosso verdadeiro fluxo administrativo.



Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira

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