Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.
Nem nos nossos piores pesadelos, cogitamos passar (e ainda estamos passando) por todo esse turbilhão de transformações radicais provocadas pela pandemia. Nos últimos 12 meses, casas se transformaram em escritórios, reuniões passaram a ser on-line e abraços tornaram-se definitivamente proibidos.
O setor de alimentação fora do lar, obviamente, foi afetado. Mas hoje venho aqui não para contabilizar os prejuízos, que todos, infelizmente, já sabemos quais são, mas salientar os aspectos positivos que podemos tirar de toda essa experiência imposta pela Covid-19. Sim, eles existem. Basta olhar com cautela para enxergá-los.
O primeiro deles, certamente, foi o fortalecimento do delivery. Muitas empresas, inclusive, tiveram que sair do mundo off-line, aparecer nas redes e aprender a lidar com esse sistema de vendas, já que ele foi a única opção de faturamento, principalmente nos períodos de lockdown. Sem dúvida, um aprendizado difícil de ser ignorado ou esquecido.
Com o delivery, aprendemos, principalmente que se o cliente não pode ir ao restaurante, o restaurante deve ir até ele. Com isso, kits e menus para cozinhar em casa ganharam projeção e transformaram a relação entre cozinheiros e consumidores. A sala de casa se transformou no salão e nela é possível, agora, comer pratos de alta gastronomia mesmo que se tenha pouca experiência com as panelas. Apesar da abertura gradual (e provavelmente inconstante), a tendência deve permanecer. Chegou para ficar.
Outro fator positivo advindo das transformações da pandemia é, sem dúvida, a valorização da comida mais local. Com as imposições de restrições mais rígidas, em muitos casos até com fechamentos de fronteiras, vários países tiveram que priorizar como nunca seus próprios produtos. Desde que a onda do ‘quilômetro zero’ atingiu a gastronomia, obrigando chefs a olharem para seus quintais, o termo local nunca foi tão urgente quanto agora.
Graças a isso, já estamos observando um interessante retorno de receitas e sabores familiares e locais, de comidas tradicionais esquecidas ou até então ignoradas.
Poderia aqui citar inúmeras mudanças que estes últimos 12 meses trouxeram, já que agora observo eles em retrospecto. Resguardadas as devidas proporções, me atenho a dizer apenas que a pandemia permitiu a muitos saírem de suas zonas de conforto e colocarem na prática a tão falada necessidade de reinvenção. Pena que nem todos conseguiram. Muitos sucumbiram. Mas se você foi capaz de dar uma chacoalhada generosa na sua estrutura, não esmoreça. Inúmeras mudanças que chegaram hoje, vieram para ficar. E outras tantas estão por vir. Aproprie-se delas, aprimore-se e siga sempre em frente.
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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